Em uma decisão que chocou a opinião pública, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reverteu a condenação do apresentador Marcos Paulo Ribeiro de Morais, conhecido como Marcão do Povo, acusado de injúria racial contra a cantora Ludmilla. O caso remonta a um episódio de 2017, quando o apresentador, em rede nacional, utilizou o termo “pobre macaca” ao se referir à artista durante um programa de TV. A reversão da condenação gerou indignação e reacendeu o debate sobre o racismo estrutural e a impunidade no Brasil.
O Julgamento e a Polêmica Decisão
A decisão foi proferida pelo juiz Omar Dantas Lima, da 3ª Vara Criminal de Brasília. O magistrado entendeu que o apresentador não teve a intenção de injuriar racialmente a cantora, considerando que a expressão foi usada em um contexto crítico e não como ofensa direta, conforme os critérios do artigo 140 do Código Penal.
Entretanto, para muitos, a decisão é um claro retrocesso na luta contra o racismo. A fala de Marcão do Povo, veiculada em rede nacional, foi amplamente criticada na época como um exemplo escancarado de preconceito e violência simbólica. O Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) moveu a ação criminal, argumentando que a declaração foi explícita e carregada de teor discriminatório. Ainda assim, o STJ entendeu que não havia provas suficientes para manter a condenação.
Ludmilla Reage com Indignação
A cantora Ludmilla, uma das maiores vozes da música brasileira, não escondeu sua frustração diante da decisão. Em um comunicado publicado nas redes sociais, a artista classificou o episódio como um novo golpe na luta contra o preconceito.
“Ontem foi mais um dia difícil na vida de quem luta contra o preconceito. Surpreendentemente, mesmo após a utilização dos termos ‘pobre e macaca’ contra mim, o Juízo da 3ª Vara Criminal de Brasília entendeu que não houve, por parte do apresentador Marcão do Povo, a intenção de ofender (?!). Pois eu digo: ofendeu sim e meus advogados estão preparando o recurso cabível.”
A fala emociona e denuncia uma realidade recorrente: o racismo sendo deslegitimado até mesmo nas esferas judiciais. Ludmilla reforçou que jamais teve qualquer relação ou interação com o apresentador que justificasse tal agressão verbal.
“Não conheço este senhor e nunca troquei uma palavra com ele para receber qualquer insulto. Entendam de uma vez por todas: mesmo quando eu estou na cadeira de vítima dão um jeito de me sentar na de vilã.”
Ludmilla
Racismo em Rede Nacional
A fala de Marcão do Povo gerou uma avalanche de críticas na época. Para muitos, o apresentador utilizou sua plataforma para reproduzir o racismo, uma prática que infelizmente ainda encontra espaço em certos setores da sociedade. A reversão da condenação sinaliza, segundo especialistas, a fragilidade das estruturas judiciais no combate a esse tipo de violência.
Reações e Desdobramentos
Entidades como a Articulação Negra Brasileira (ANB) e a Comissão de Igualdade Racial da OAB manifestaram repúdio à decisão e ofereceram apoio à cantora. O caso traz à tona a pergunta: até que ponto a Justiça brasileira está preparada para lidar com questões de racismo e preconceito?
O time jurídico de Ludmilla já anunciou que irá recorrer da decisão. A artista se tornou símbolo de resistência e tem usado sua visibilidade para denunciar episódios de racismo, não apenas contra si, mas contra toda a população negra.
Ludmilla / Fotos : Steff Lima
Uma Luta Que Não Pode Parar
O caso de Ludmilla é um lembrete gritante de que o racismo persiste e, muitas vezes, é minimizado pelas próprias instituições que deveriam combatê-lo. A reversão da condenação de Marcão do Povo não é apenas uma afronta à cantora, mas a todos os que acreditam em uma sociedade mais justa e igualitária.
No Brasil, onde a cor da pele ainda define privilégios e exclusões, decisões como esta reforçam a necessidade de vigilância constante e de um sistema judicial verdadeiramente comprometido com a equidade racial. Ludmilla promete lutar até o fim para que a justiça seja feita.
E, com ela, uma sociedade inteira grita:
Basta de Racismo, Basta de Impunidade!