Bianca Comparato nunca foi de economizar entrega. Mas em Tremembé, ela atravessou um limite que jamais havia experimentado na carreira. Em uma conversa intensa, honesta e sem filtros com Mari Palma, a atriz revelou bastidores emocionais da série que virou fenômeno e surpreendeu até quem estava dentro dela.
O encontro, que vai ao ar nesta quinta-feira, dia 12, às 20h, no canal CNN Pop, no programa Na Palma da Mari, reúne Bianca e o ator Kelner Macêdo para um papo que mistura vulnerabilidade, resistência e o impacto cultural inesperado de uma obra que ultrapassou a tela.
Logo de início, Bianca deixa claro que só foi possível atravessar Tremembé graças à união do elenco. Segundo ela, o set se transformou em um espaço de acolhimento em meio a temas pesados e emocionalmente extremos. O camarim virou refúgio. Um lugar onde, entre uma cena e outra, era preciso rir, respirar e, muitas vezes, simplesmente segurar a mão do outro para seguir adiante.
A atriz conta que, pela primeira vez, sentiu que um personagem passou do ponto emocional. E não esconde isso. Pelo contrário. Ela verbaliza algo que poucos artistas admitem publicamente. Disse que não deu conta. Que chegou a verbalizar isso no set, reconhecendo que aquele nível de carga emocional era maior do que tudo que já tinha vivido.
Kelner Macêdo confirma que esses momentos fora de cena eram essenciais para sustentar o trabalho. As histórias eram densas demais para serem atravessadas sem pequenas pausas de leveza. Segundo ele, havia dias em que o peso da cena começava muito antes do “ação” e só terminava depois que o corpo já não respondia mais. Em alguns casos, o impacto era físico.
O ator relata que uma das cenas mais brutais da série o deixou em um estado tão intenso que ele passou 24 horas com enxaqueca. Nenhum remédio resolveu. Era o corpo reagindo ao que a mente foi obrigada a sustentar por horas seguidas.
A conversa também revela o quanto a troca constante entre os atores foi determinante para o resultado final. Kelner destaca que essa intimidade construída nos bastidores fazia toda a diferença na hora de atuar. Conhecer o outro, confiar, jogar junto. Bianca complementa dizendo que Tremembé exigia um senso de coletivo permanente. Mesmo quando um personagem não estava no centro da cena, ele fazia parte do quadro. Tudo acontecia ao mesmo tempo. Nada era isolado.
Mas talvez o momento mais cru da entrevista venha quando Kelner revisita um período delicado da própria carreira. Ele conta que estava à beira da desistência. Sem dinheiro, sem perspectivas e depois de meses sem trabalho, cogitou abandonar a profissão para sobreviver. Tremembé surgiu como uma última chance. E ele entrou com tudo. Com a história inteira nas costas.
O impacto da série, no entanto, superou qualquer previsão. Segundo Kelner, em apenas 12 horas Tremembé atingiu números que estavam projetados para um mês inteiro. O sucesso foi tão grande que o Prime Video registrou um aumento de 50% no número de assinantes por causa da produção. A obra deixou de ser apenas entretenimento e virou debate. Tocou em feridas sociais, provocou discussões e saiu do controle até de quem a criou.
Tremembé não foi só uma virada de carreira para seus atores. Foi uma experiência limite. Daquelas que transformam. E, como Bianca Comparato deixa claro, às vezes vencer uma história também significa admitir que ela dói mais do que a gente imaginava.